JUSTINO DELGADO


Por Mussa Baldé, Jornalista GBissau

É um trabalho que marca o regresso do grande Justino que todos nós conhecemos e gostámos. Costumo dizer que não há um único guineense que não goste das músicas do Juju. Em todas as casas de cada guineense dentro ou fora do solo pátrio há um disco, um CD uma pen drive com as músicas do Justino.

Ele é seguramente o guineense mais ouvido em termos musicais. Esta nova obra, Estátua, traz um Justino de sempre. Atento à sociedade, intérprete das aspirações e angústias do seu povo, mas também um Justino crítico político e social, fruto talvez, da sua passagem pelas esferas do poder como ministro-conselheiro do Presidente de Transição.

Justino Delgado – “Estátua” [2014] – Capa Os 14 temas do álbum Estátua juntam as novas sonoridades aos ritmos tradicionais da velha Guiné ainda dos tempos do antanho, lembrando as interpretações dos anos de 1990 quando o cantor dava os primeiros passos na banda Africa Livre na Guiné-Bissau e em Portugal.

O álbum Estátua vem comprovar o aspeto multifacetado e cada vez mais internacional do Justino Delgado.

A par dos Tabanka Djazz, Justino Delgado é o cantor guineense com maiores faculdades para interpretar músicas de outras latitudes com propriedade aceitável. Assim, trouxe-nos três excelentes Sembas, lembrando a sua longa e inquestionável amizade com Angola, um quentíssimo Funana e (grande novidade) uma suavíssima Rumba Congolesa revelando cada vez mais a sua pretensão de se internacionalizar, isto é, seguindo o caminho que está a ser tomado pelas grandes vedetas da música do mundo. O cantor que se ficar apenas na interpretação da música do seu país arrisca-se a ser reduzido à insignificância. Parece que o nosso grande Juju já percebeu isso. Ainda bem para ele e para nós que gostámos de vê-lo nos píncaros da fama e do reconhecimento internacional que tarda em chegar mas que merece há bué!

O opus Estátua também traz uma justa e merecida homenagem do cantor aos jogadores guineenses que o destino fintou pelos campos e ruas da velha Europa. Com esta homenagem cantada, Justino enfatizou mais vez a sua ligação aos homens da bola, grandes jogadores na Guiné mas que não teriam a sorte do seu lado quando se decidiram aventurar no futebol profissional.


Justino Delgado – “Estátua” [2014] – Verso da Capa Justino Delgado brindou-nos igualmente com duas canções de outros álbuns, mas agora em novas roupagens, mas sem perder qualidade e melodia que são apanágios do cantor do povo: Saudade da Liberdade e Telefone Bom Dé. Volta a apelar ao compromisso com a causa nacional, um apelo válido para todos os guineenses, aqueles que se encontrem dentro ou fora do país.

Justino Delgado enaltece igualmente o facto de não pretender nunca trocar a sua Guiné com qualquer país do mundo por mais arrumado que possa ser. Pede aos irmãos guineenses emigrados para que tenham o mesmo sentimento. Lança um olhar ao debate político atual na Guiné-Bissau questionando a tão falada lei da amnistia geral aos autores de atos subversivos contra a República. Diz o cantor: Todos nós estamos entre a espada e a parede. E diz mais: Amnistia sem julgamento é preciso desconfiar! Só um à parte. Por tudo quanto já fez, já viu e ouviu de elogios e de reconhecimento dos guineenses creio que o Justino deve deixar de lado aqueles que o criticam. Deve simplesmente deixar de mandar farpas musicais aos seus detratores porque, como diz o também grande Zé Carlos Schwarz: Sibu sta dianti na luta kabu djubi traz, Passa dianti só”.

É a minha opinião apenas!

Mantenhas,

Mussá Baldé




Fonte: http://www.gbissau.com/?p=11771

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